Outro dia recebi uma mensagem de socorro pelo WhatsApp de um dono de livraria, pedindo para que comprássemos livros para que ele não fosse à falência. Uma livraria que eu frequentava lá perto do meu escritório no Centro do Rio já fechou as portas. Foi lá onde eu adquiri minha coleção quase completa de Eduardo Galeano, e livros de Judith Viorst, Augusto Cury, André Comte-Sponville, entre outros. Fecham as portas grandes e pequenas livrarias, e no lugar delas deverão surgir bancos e drogarias, bancos para extorquirem o nosso dinheiro, e drogarias para comprarmos remédios para a cura das nossas doenças psicossomáticas e ansiedades sem fim, muitas adquiridas por falta de paz e de leitura.
Na livraria, casa dos sonhos e das palavras, quando entramos logo vemos os livros se oferecendo para nós. Eles nos “procuram” com seus vários tamanhos, com suas capas colorias, com os seus apelos, com suas mensagens e com as suas histórias. Lá buscamos viajar, sonhar e aprender, tudo junto e misturado. Muitas vezes me pego sentado em uma poltrona escutando música e lendo, lá no meu distante refúgio verde, sempre ao lado de minha amiga de quatro patas Babalu, e fico tentando não pensar no que um futuro sem livros reserva às nossas crianças e adolescentes. Fico espantando pensamentos e tristezas mas não adianta, porque vejo crianças nascendo e crescendo ao meu redor, e eu já as amo tanto que logo me preocupo ainda mais. Quando uma criança vem para o meu lado e fica em silêncio, e começa a mexer em um telefone celular, minha mente já cansada e atônita de imediato viaja, e me faz me imaginar entrando na “minha” livraria que se foi para passear entre fantasmas de pessoas e livros. Celulares, computadores e nossa indiferença condenaram os livros a se afastarem de nós, as livrarias a fecharem as portas, e os nossos sonhos a irem buscar alento nas telas frias de equipamentos eletrônicos.
Parece-me que os livros vão sumir mesmo, e que as próximas gerações estão condenadas ao quase silêncio, e a ficar sentadas curvadas e olhando para a tela hipnotizante de um telefone celular. Um dia, olhando para a noite e para as estrelas, de repente vi uma delas cair e fiz um pedido:
– Muda Senhor!
Babalu ouviu, me olhou, baixou as orelhas, beijou o meu braço e sussurrou no meu ouvido:
– Não dá mais!
(Neste Natal, vamos todos dar livros de presente!)
Wanderley Rebello Filho –
Advogado e Conselheiro da OAB/RJ.