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RJ.Primeiras palavras para 2019
Fonte: https://br.freepik.com/fotos-gratis/sombra-feita-a-partir-de-2019-inscricao_3440383.htm#query=reflex%C3%A3o%202019&position=11&from_view=search&track=ais
Reflexões para o ano de 2019

Na primeira noite eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada! Na segunda noite já não se escondem, pisam as flores e matam o nosso cão. E não dizemos nada! Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo,arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada antes, já não podemos dizer mais nada!

(Maiakovski, início do Século XX)

*

Um dia eles vieram e levaram o meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei! No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram um vizinho católico.Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar!

(Martin Niemöller, 1933)

*

Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isto. Não era negro! Em seguida levaram alguns operários. Mas, não me importei com isto. Eu também não era operário! Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isto porque eu não era miserável. Depois agarraram uns desempregados mas,como eu tinha o meu emprego, também não me importei. Agora estão me levando, mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.

(Bertold Brecht, 1956)

*

Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima. Depois eles incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles. Depois eles fecharam as ruas onde não moro; e fecharam o portão da favela que não habito. Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho…

(Cláudio Humberto, 2007)

*

Primeiro Maiakovski silenciou, e eles pisaram nas flores de seu jardim e depois colheram as que sobraram; e depois eles mataram o seu cão e roubaram a sua lua. E sabendo que ele estava com medo, eles arrancaram a sua voz da garganta. E ele nunca disse nada! Depois Martin Niemöller viu levarem o seu vizinho que era judeu, e como ele não era judeu não se incomodou. Depois levaram o vizinho comunista, depois o católico, e como ele não era nem comunista, nem católico, ele não se incomodou. Quando o levaram, não tinha a quem reclamar!

Depois Bertold Brecht viu levarem os negros, mas como não era negro, não se importou.

Depois levaram os operários, depois os miseráveis, depois os desempregados… e depois vieram para levá-lo. Como ele não se importou com ninguém, ninguém se importou com ele.

Depois Cláudio Humberto os viu roubando nos sinais, incendiando os ônibus, fechando ruas e portões de favelas, e depois os viu arrastando uma criança até a morte; mas… como ele não foi roubado no sinal, como ele não estava no ônibus incendiado, como não foi a sua rua a que foi fechada, como ele não morava na favela, e como a criança arrastada não era seu filho, ele apenas escreveu sobre tudo isto.

E porque nenhum deles falou, nem gritou, nem reclamou; e porque nenhum deles impediu que levassem os inocentes; e porque todos eles apenas escreveram sobre o que viram e, salvo engano, nada fizeram senão escrever… foi por isso, também, que tudo acima aconteceu e continua a acontecer…

Será que eu vou cometer os mesmos erros?

(Wanderley Rebello Filho, 2009)

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